Em 2014, cinco importantes álbuns que deram um respiro ao rock com forte identidade brasileira completam 20 anos.
- Esqueça blogs, plataformas de streaming e Youtube. Em um período de fitas demo para divulgação de uma banda, MTV Brasil na televisão, fanzines circulando novidades do underground, transição do vinil para o CD e grandes gravadoras em atividade começando a lançar selos em parte "independentes" para divulgar materiais alternativos, começava a nascer no Brasil um plural cenário musical.
- Miranda, que descobriu os brasilienses e os produziu no estúdio Bebop, em São Paulo, posiciona os músicos em uma espécie de olimpo do rock nacional. "Raimundos não tem para ninguém, é a banda mais chuta c* da história da música brasileira", diz. "E a minha maior contribuição foi permitir que eles fossem exatamente como eram. Não quis mudar o som, diminuir guitarras, tirar palavrão. Deixei bem cru e nervoso."
- "Eles começaram um novo capítulo, das bandas que cantavam em português e que tinham orgulho de ser brasileiras, a exemplo do próprio mainstream, preenchido por axés e sertanejos", afirma o jornalista Ricardo Alexandre, que acompanhou algumas gravações do disco e comenta sobre a experiência no livro recém-lançado "Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar – 50 Causos e Memórias do Rock Brasileiro (1993-2008)". "Essa geração consegue ser a mais rock e mais brasileira do que qualquer outra da nossa música."
- No caso da Nação, a banda fechou com a Sony pelo selo Chaos. "Sabíamos que éramos avessos a tudo o que poderia ser chamado de comercial", relembra Lucio. "E naquela época, com esse lance dos selos, as gravadoras investiam em dez artistas para tentar acertar um. Hoje em dia essa matemática chama-se 'zero para zero'. Querem toda uma estrutura pronta e com potencial para só então investirem."
- "O Rappa"
No cenário carioca e em nível nacional, O Rappa, ainda em sua formação clássica com Marcelo Yuka na bateria, só foi se destacar de verdade no mainstream com "Rappa Mundi", de 1996, mas foi com o homônimo de dois anos antes que a banda de rock com um pé no reggae e no dub estreou no plural cenário daquela década. - "Hoje vejo esse disco como um material cult nosso", diz o tecladista e baterista Marcelo Lobato. "Não era o álbum pop que queriam. Era uma época em que ensaiávamos muito mais do que tocávamos ao vivo e tínhamos um som bem mais pesado. Acho até que as dificuldades para finalizá-lo acabaram prejudicando também a visibilidade."
- "Calango"
"Veteranos" na lista de estreantes de 1994, os mineiros do Skank já tinham no currículo um primeiro álbum homônimo lançado dois anos antes e inteiramente bancado pela banda com o dinheiro vindo de shows em bares de Belo Horizonte. A tiragem foi de 3 mil CDs (sendo uma das primeiras bandas independentes a investir de cara no formato que começava a se expandir pelo mercado), sendo 500 deles distribuídos a jornalistas, radialistas e formadores de opinião. - "Calango", fortemente influenciado por reggae e pelo dancehall, foi um sucesso absoluto e emplacou nas paradas nacionais hits como "Jackie Tequila", "Esmola", "Pacato Cidadão", a versão de "É Proibido Fumar" (de Erasmo Carlos e Roberto Carlos) e "Te Ver", tornando o Skank um dos mais populares nomes do pop rock da década, vendendo 1,2 milhão de cópias.
"Foi o Dudu que nos apresentou como utilizar sampler e isso foi um grande avanço na nossa sonoridade", conta Portugal. "Vejo esse disco do Skank como um trabalho atemporal."